São tantos pés, tantos caminhos, olhares não se tocam, bocas não são vistas, e de repente abro e vejo a multidão. Cabeças, apenas cabeças. Parece que o tempo parou. Nem o sinal do alarme do carro roubado na esquina consigo escutar. Nesse instante tudo parece tão simples, movimentos dos dedos ganham uma notoriedade gigantesca, a sombra no chuveiro torna-se algo memorável... Memórias, eis tudo que somos, memórias, lembranças, desejos. Acordamos e novamente iniciamos o esforço da lembrança, tentamos lembrar de tudo, e percebemos a impossibilidade e o vão esforço. Recordamo-nos somente daquilo que nos incomoda, as poucas moedas no bolso esquerdo, as muitas contas no bolso direito, as frustrações dentro da carteira, o saco de fracasso pendurado no cinto, os medos apertados nas mãos escorrendo pelos dedos espremidos. E retornamos o inverso da lembrança, a tentativa de recordar o que já foi relembrado, mas o inconsciente nos comanda: sóis humano, e humano, e falho.
sábado, 20 de junho de 2009
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Não devemos nos perder nas impossibilidades, não podemos parar no meio do caminho por mais longa que seja a estrada, e as suas curvas... Não importa a velocidade, importante mesmo é a direção, a direção, a direção... Lembrar de coisas que nos incomoda toma o nosso tempo, atrasa a nossa viagem... Belissímo texto!
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