domingo, 27 de dezembro de 2009

Entre Despedidas e Intervalos...


A vida é cheia de intervalos, alguns tornam-se incompreensíveis, outros essenciais, por muitos momentos nos deparamos com intervalos que os caminhos nos impõe. Hoje percebo que alguns são tão importantes que caso não houvessem ocorridos, perderíamos o dom de valorizá-los. Quando esses intervalos acontecem, imaturamente nos lastimamos pela sua ocorrência. Agora voltamos mais fortes diante dos desejos do interrompido. Toda despedida exige-nos dor, o parto é a primeira despedida que experimentamos, saímos do aconchego confortável do útero, depois nós prosseguimos entre despedidas. Há um ano nos despedimos, mas ainda não sabíamos que a vida nos preparava somente um intervalo. É preciso um intervalo entre as quatro estações, só assim teremos sol, flores, chuva e frutos, colhidos a cada ano, entre intervalos e despedidas.

Arlindo Bezerra da Silva Junior

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Minicronicando


A velha Srª Willy todas as tardes abria o mesmo e velho vinho, e apreciava o mesmo e velho queijo, acompanhada do mesmo e velho e disco, entediada pelas mesmas e velhas canções, apaixonada pelos os mesmos e velhos amores, perfumada pelas mesmas e velhas flores, e esperando a mesma e velha morte. Mas tudo o que a Sr.ª Willy não sabia é que ela ainda esperaria até realmente tornar-se velha, de verdade, não antes do tempo.

Arlindo Bezerra da Silva Junior

Vi/Zi/Nho


Olhamos para a grama do vizinho, e pensamos ser a dele sempre melhor que a nossa. Quando paramos para ver a nossa é que nos damos conta que para olhar a que está ao lado, é necessário pisar naquela que lutamos para fazê-la nascer, por isso que destruímo-las. Ao realizarmos o esforço de olharmos para o vizinho, esquecemos que somos tão falhos quanto aqueles que nos rodeiam, cada um, na sua fragilidade contempla a difícil tarefa de Ser Humano.
Arlindo Bezerra da Silva Junior

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

...



De repente descobrimos que podemos amar tanto quanto amamos em experiências anteriores, e percebemos que continuamos pulsando os mesmos desejos de felicidades, e ainda aprendemos que o outro não nos completa, apenas nos permite sermos melhores do que somos sozinhos. E mesmo, compreendemos logo, que cada experiência nos reserva grandes ensinamentos, e que não há melhor nem pior, somos seres diferentes. E saímos mais fortalecidos de cada desafio que conseguimos superar, e selecionamos as melhores lembranças e deixamo-as guardadas em um lugar muito especial. Mas prosseguimos a mesma trilha, descobrindo novos labirintos, atravessando outras barreiras, ofertando maçãs e recebendo flores, e só agora temos a certeza de que podemos amar realmente tanto quanto já amamos.

Arlindo Bezerra da Silva Junior

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A Pessoa é para o que Nasce?


Eram três irmãs, cegas, cantoras, distintas e sonhadoras... Sonhavam em ver o mar, e viram, acreditavam no amor, e amaram, pensavam em serem melhores, e foram. Ao nos permitirmos viajar diante da poética exposta no documentário “A Pessoa é para o que Nasce” de Roberto Berliner, é que percebemos o quão somos frágeis diante da vida. Ainda reverbera uma frase dita por uma das irmãs, “a melhor hora é a hora de dormir, quando fecho os olhos é que posso ver as cores, e então, eu posso sonhar”. Que ironia caros, três irmãs, cegas e pobres, mas que possuem o dom da musicalidade, de suavizar as dores do mundo por meio da música. Mesmo sem a visão, elas vêem, e nós ditos cujos perfeitos não conseguimos enxergar um palmo a frente do nosso nariz. Nessas horas é que refletimos, será que somos destinados para aquilo que nascemos? E se somos? O que nos reserva ainda o destino nessa tão irônica existência? E que pergunta difícil... Mas ainda prefiro continuar sem a resposta, pelo ou menos por enquanto.
Arlindo Bezerra da Silva Junior

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Hoje acordei Lorranny





Hoje acordei Lorranny, com dois enes e um ipslone, assinei logo o nome, para nunca mais voltar a ser quem era. Ainda com a maquiagem borrada caminhara em passos lentos e mórbidos até o vaso sanitário e expulsara em seu ritmo todos os excrementos que insistiam em habitar sua existência. Logo o primeiro corpo estranho que sentira, fora o últero, vazio.

Assim, sentindo seu últero vazio, Lorrany só pensava na roda!

Fissura, estou ficando tonta. Essa roda girando girando sem parar. Olha bem: quem roda nela? As mocinhas que querem casar, os mocinhos a fim de grana pra comprar um carro, os executivozinhos a fim de poder e dólares, os casais de saco cheio um do outro, mas segurando umas. Estar fora da roda é não segurar nenhuma, não querer nada. Feito eu: não seguro picas, não quero ninguém. Nem você. Quero não, boy. Se eu quiser, posso ter. Afinal, trata-se apenas de um cheque a menos no talão, mais barato que um par de sapatos. Mas eu quero mais é aquilo que não posso comprar. Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar. Diferente dessa gente toda vestida de preto, com cabelo arrepiadinho. Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros ecmo você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro.

(Referência bibliográfica: "A Dama da Noite" - Caio Fernando Abreu)

Suje-se, depois limpe-se!



Vivemos a era do colonialismo social barato, materializamos a era da estética imagética legendada nas fotografias expostas nos sites de relacionamento, vendemos a imagem há muito tempo, mas hoje manipulamos e poetizamos as informações, ninguém morre, vai-se para outro plano espiritual, ninguém é assaltado, tenta-se, e inventa-se, ninguém joga murro, dialogam conflitos, e perdoa-se, fácil, fácil. Acredito que o mundo precisa ser poético, mas ainda opto pela veracidade jornalística ética dos fatos, isso, perdeu-se, já foi, e se foi. Mas... é torcer para ser sempre um sociável, e então, você está livre de todos os seus dilemas! Foi-se embora a educação, o requinte, basta apresentar-se bonito na fotografia, e pouco importa depois o que acontece, mas não sem antes adicionar uma pitadinha de cinismo barato, agora está pronta a receita, leve ao forno bem aquecido, depois não esqueça de rasgar as páginas amarelas do livro antigo de receitas da família tradicional, e de preferência ponha a sujeira para bem debaixo do tapete.
Arlindo Bezerra da Silva Junior

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Seja uma sacola



Paramos de pensar no destino, hoje o mais importante é sentir-se leve, é ser inconstante. Na próxima viagem andaremos mais leves, amarraremos na cintura apenas o necessário, e estaremos mais abertos a novas experiências, perderemos os pudores e ousaremos com a alma. Liberdade, éis o que temos de mais precioso, liberdade de sermos o que quisermos, sentir o pulso do desejo e resoar no corpo o eco do nosso espírito. E só depois voar, e amar, e acreditar, e cansar, e tentar, e pular, sem pensar no que pode haver embaixo. É preciso ter coragem para sermos o que somos, permitir que nada nos incomode e ignorar os obstáculo. E entre buzinas e fumaças percorrer o infinito. Mas hoje libertemo-nos de todas as couraças, amarras e acreditemos na verdade daquilo que podemos ser. Permita-se agora voar, não importa aonde vais chegar, mas por onde vais atravessar. E segue...


Arlindo Bezerra da Silva Junior

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cra-vos



Só por hoje quero receber flores, só hoje aceito romantismos piegas... Arranca o cravo do teu jardim e oferta com alma, deixa escorrer orvalho. Escolhe aquele velho disco, prepara as taças de vinho, separa a melhor roupa, preencha-te com o melhor perfurme, decora as melhores palavras, e tenta agora dormir e não acordar mais desse sonho!

Arlindo Bezerra da Siva Junior

Quem precisa de datas...


Para que inventaram o dia do amigo... Pura hipocrisia de demarcar, homenagear e congratular tamanha transcendência. Mas como nascem as grandes amizades? Ao certo somos predestinados a cruzar com tais pessoas que lançamos nossos olhares e de repente tornamos único? Em tempos atuais conseguimos acreditar em verdadeiras amizades? Posso ter certeza que sim. Sem tal sentimento já teríamos nos esfarelados no tempo, voltaríamos a ser pó como voltaremos um dia, mas sem amigos perdemos a essência e mergulhamos no vazio da existência. Penso nos meus amigos e me questiono se pudesse voltar no tempo ainda gostaria de conhecê-los, e neste jogo de perguntas e respostas, impulsivamente, respondo que não mudaria nada, daria as mesmas risadas, choraria pelo mesmo abandono, brigaria pelos mesmos motivos e comemoraria as mesmas vitórias. Amigo é muito mais que palavras, ultrapassa as homenagens recheadas de clichês e frases compradas, amigo é pele, é olhar, é força, é sorriso. E reverbera o questionamento - Como nascem as grandes amizades? A resposta ficará para o próximo dia do amigo...
Guardei a foto preto e branco na velha caixa de sapatos, e tentei vencer a insônia. E quem precisa de datas se a cada minuto tudo se renova?





Arlindo Bezerra da Silva Junior

sábado, 20 de junho de 2009

TRAVESSIA




São tantos pés, tantos caminhos, olhares não se tocam, bocas não são vistas, e de repente abro e vejo a multidão. Cabeças, apenas cabeças. Parece que o tempo parou. Nem o sinal do alarme do carro roubado na esquina consigo escutar. Nesse instante tudo parece tão simples, movimentos dos dedos ganham uma notoriedade gigantesca, a sombra no chuveiro torna-se algo memorável... Memórias, eis tudo que somos, memórias, lembranças, desejos. Acordamos e novamente iniciamos o esforço da lembrança, tentamos lembrar de tudo, e percebemos a impossibilidade e o vão esforço. Recordamo-nos somente daquilo que nos incomoda, as poucas moedas no bolso esquerdo, as muitas contas no bolso direito, as frustrações dentro da carteira, o saco de fracasso pendurado no cinto, os medos apertados nas mãos escorrendo pelos dedos espremidos. E retornamos o inverso da lembrança, a tentativa de recordar o que já foi relembrado, mas o inconsciente nos comanda: sóis humano, e humano, e falho.

sábado, 30 de maio de 2009

Então, nós esperamos a tempestade passar...


Diante dos momentos desconfortantes e tempestivos reconhecemos a eternidade, vivemos a suspensão no tempo, no espaço. Por um momento pensamos na ilha que não existe, na fuga em que se ancora a covardia. E quando não, optamos pelo desafio, descobrimos o desconhecido, e o escondido. Reconhecemos nossas falhas, revelamos nossa força, desafiamos a fraqueza, e negamos o fracasso. Então, nós esperamos a tempestade passar... e agora recomeçamos, acreditando que é possível reconstruir.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

DILATA TUA PUPILA


Só por hoje esqueça as filosofias, ignore os teóricos, cuspa na auto-ajuda. Só por hoje se entregue ao que há de mais vivo no seu corpo, sinta a pele, o calor. Ande na corda, pule do trampolim, salte na elasticidade da cama. Só por hoje, seja você, esqueça as opiniões alheias, somos donos do nosso destino... Se preocupas em enxergar o futuro, em elaborar planos, traçar metas... Mas não enxerga o que está pousado no teu olhar, o que pulsa no teu corpo!


Arlindo Bezerra da Silva Junior

Tic-Tac-Tic-Tac


Minicrônicamente

O frango estava no forno... Enquanto isso ele esperava na sala e fumava um charuto. Sentindo o cheiro da fumaça, ela tomava banho e perfumava-se de rosas... Mas logo em seguida, ele rola escada abaixo, o charuto ainda continua acesso, o frango no forno, e a canção no banho... E inocentemente ela pedia uma noite diferente, e teria.

Arlindo Bezerra da Silva Junior

terça-feira, 26 de maio de 2009

O Prazer da Saudade...


Entre borrachas e apontadores, mora o meu grande amor Colei seu nome com várias cores no livro que ela me emprestou Mandei mil balas e mariolas, roubei as flores todas do jardim Eu faco tudo na minha escola pra ver se ela gosta de mim Cola o teu desenho no meu pra ver se cola Cola o meu retrato no teu e me namora Comigo nessa danca, um sonho de crianca E o meu coracao colado ao teu pra ver se cola (2X) Entre borrachas e apontadores, mora o meu grande amor Colei seu nome com varias cores no livro que ela me emprestou Mandei mil balas e mariolas, roubei as flores todas do jardim Eu faco tudo na minha escola pra ver se ela gosta de mim Cola o teu desenho no meu pra ver se cola Cola o meu retrato no teu e me namora Comigo nessa danca, um sonho de crianca E o meu coracao colado ao teu pra ver se cola (2X)
Letra: Trem da Alegria

" A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar" Rubem Alves

És belo...



Quando chegamos ao mundo, são as palmadas que nos recebem e nos inspiram ao primeiro choro, o grito de anúcio de chegada. Também são as tapinhas leves nas costas que nos proporcionam alguns poucos arrotos após a refeição. Ainda criança é através do tapa que conseguimos o que queremos, inclusive a primeira confusão. Mais tarde para alguns o tapa pode ser prazer, sexo, cama. Mas o que verdadeiramente nos trazem ao mundo é o tapa que ele nos dá, então agora você recebe um sincero: Seja bem-vindo, você nasceu! Mas continuamos a enxergar a beleza de um tapa...

Arlindo Bezerra da Silva Junior

domingo, 24 de maio de 2009

Antes de entrar na sala senti seu perfume...


Você já amou pela beleza do gesto, você já mordeu a maçã com os dentes todos, pelo sabor do fruto. A sua doçura e o seu gesto já se perdeu algumas vezes. Sim, eu já amei pela beleza do gesto, mas a maçã era dura, parti os dentes. Estas paixões imaturas, estes amores indigestos, me deixaram mal dispostos algumas vezes. Os amores que duram, tornam os amantes exaustos, e o beijo deles demasiado maduro, apodrece-nos a língua. Os amores passageiros, têm febres passageiras. E o verbo demasiado verde. Esfola-nos os lábios. Porque ao querer amar pela beleza do gesto, o verme da maçã escorrega-nos entre os dentes. Ele roe-nos o coração, o cérebro e o resto, esvazia-nos lentamente. Mas quando ouvimos o amor pela beleza dos gesto, este verme da maçã que nos escorrega entre os dentes, toca em nosso coração, o cérebro e deixa-nos o seu perfume lá dentro. Os amores pasageiros fazem esforços inúteis, as suas carícias efêmeras, cansa-nos o corpo. Os amores que duram, tornam os amantes menos belos.


Ama-me menos, mas ama-me por mais tempo.


Filme: Les Chansons d'amour

sábado, 23 de maio de 2009

Tempo, tempo, tempo...



És um senhor tão bonito Quanto a cara do meu filho Tempo tempo tempo tempo Vou te fazer um pedido Tempo tempo tempo tempo Compositor de destinos Tambor de todos os ritmos Tempo tempo tempo tempo Entro num acordo contigo Tempo tempo tempo tempo Por seres tão inventivo E pareceres contínuo Tempo tempo tempo tempo És um dos deuses mais lindos Tempo tempo tempo tempo Que sejas ainda mais vivo No som do meu estribilho Tempo tempo tempo tempo Ouve bem o que eu te digo Tempo tempo tempo tempo Peço-te o prazer legítimo E o movimento preciso Tempo tempo tempo tempo Quando o tempo for propício Tempo tempo tempo tempo De modo que o meu espírito Ganhe um brilho definitivo Tempo tempo tempo tempo E eu espalhe benefícios Tempo tempo tempo tempo O que usaremos pra isso Fica guardado em sigilo Tempo tempo tempo tempo Apenas contigo e comigo Tempo tempo tempo tempo E quando eu tiver saído Para fora do teu círculo Tempo tempo tempo tempo



Oração ao Tempo - Caetano Veloso

VOCÊ PODE APROVEITAR ESSE DIA LINDO...

Lynette - Ei, Mary Alice, você está bem?
Mary Alice - Sim, obrigada. Estou bem.
Lynette - Okay. Te vejo depois.

Mas nesta noite, algo mudou.

Lynette - Não, você não está. Eu posso ver. Por favor... me diga o que há de errado. Me deixe te salvar.
Mary Alice - Você não pode me salvar.
Lynette - Por que não?
Mary Alice - Querida, nós não podemos evitar o que não podemos prever.
Lynette - Não há nada que eu possa fazer?
Mary Alice - Há. Você pode aproveitar esse dia lindo. A gente tem tão poucos assim.

Esta foi a última vez que Lynette sonharia comigo. E, por seu bem, eu fico feliz.


Desperate Hosewives.


Temos tão pouco tempo! Aproveite...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

ERA PARA SER UM LINDO DIA...

Há muito a se ter medo nesse mundo... Mas o que nós tememos não tem nada a ver com máscaras horrendas... ou aranhas de plástico... ou fantasias de monstros. Não, são os pensamentos em nossas mentes que mais nos aterrorizam...

"E se ela se arrepender de sua decisão?"
"E se ele estiver mesmo infeliz?"
"E se a oportunidade para amar se foi para sempre?"

Como nós vencemos esses pensamentos aterrorizantes? Começamos por nos lembrar, que o que não nos mata... nos deixa mais forte.


Desperate Hosewives


Era para ser um lindo dia, até que veio a chuva e com ela, tudo mudou. Quisera poder sistematicamente apagar apenas uma tarde deste calendário anual, mas sei da impossibilidade de tal desejo. De repente não havia mais onde pisar, o chão cedeu, a queda parecia eterna. Apesar da melancolia que invadiu aquele horário de almoço, continuamos a acreditar nas possibilidades que o amanhã pode nos trazer. São tantas lembranças inesquecíveis, momentos e lugares tão particulares e especiais, que dificilmente serão esquecidos. Porém, diz aquele velho ditado: O mundo dá voltas...e como dá.


Arlindo Bezerra da Silva Junior

EU TINHA QUE ESCREVER...

Agora é que são elas!... É o momento das caricatas, o Estado monta um palco de mariconas, elas quem ditam, são super-egos que se mastigam e vomitam multualmente sua arte que rende, vende e mente. Frutos do passado que adormeceram e repousaram na sombra da acomodação, glória e poder. Verdadeiros crepúsculos dos Deuses, exibidos não mais nas telas do cinema, agora nas telas do Estado. A originalidade histórica perdeu-se nas máscaras da revitalização Ribeiriana, a maquiagem borrou, as rugas da guerrilha de frente mostram seus sinais emergenciais, então, monte-se palcos e outros palcos, os que já existem são insuficientes, lâmpadas e mais lâmpadas, praças, museus ou a casa da mãe Joana (com todo respeito aos filhos). Enquanto isso, as pesquisas dos centros de formação e o conhecimento acadêmico apodrecem nas salas de aulas ou nos títulos de docentes. É preciso tornar a arte popular sim, mas sem torná-la ridícula. E quando a esperança estava quase começando, a luz apagou! No entanto, já diziam à Alice no seu país das maravilhas: “para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho é válido”.

*Depois de uma sessão pública de prestação de contas da cultura potiguar. Se não me engano era outro nome.

Língua ferina! Como diz meu amigo escritor.

Arlindo Bezerra da Silva Junior

FAZ-ME pequeno

Naquela noite, não quis ir dormir, ainda pensando em tudo o que tinha dito, e isso continuava a incomodar-me incessantemente, após ser vencido pelo cansaço, fui até o armário e com o telefone nas mãos resolvi ligar e desculpar-me de todas as grosserias, mas o telefone apenas tocou. O dia amanheceu e todos podiam notar as linhas no meu rosto de uma noite mal dormida, aliás não dormida.

Depois de várias outras tentativas fracassadas e não atendidas resolvi esquecer o tal pedido de desculpas, mas até nisso fui um fracasso, não esqueci. E assim prosseguiram sucessivas noites em claro, estava exausto, precisava aliviar o sentimento de culpa que me perseguia desde aquele dia, apenas isso. Depois de dois celulares quebrados, incalculáveis maços de cigarros, dúzias de vinhos, e páginas amarelas de um velho diário lido, é chegado o dia em que as probabilidades matemáticas reserva-nos um encontro na fila do cinema, e mesmo antes que eu pudesse falar perdão, já havia dito, esquece, eu nem lembrava mais... E assim entrei na sala de cinema, sentado na última fila, comi até a última pipoca e saí no último segundo, olhando para o último casal e me sentindo a última pessoa.

Arlindo Bezerra da Silva Junior

quinta-feira, 21 de maio de 2009

SUPERFASTICAMENTE


Ontem sentimos saudades, só por ontem fomos inocentes novamente. Sentimos muito pelo tempo que voa, pedimos muito para sermos apenas crianças, como dois eternos Peter Pan. Mas, olhando para o espelho, lembramos que crescemos, e então, foi preciso fechar os olhos e sonhar. Ela gritou que estava entrando em uma nave, perguntei se tinha um extraterrestre, ela tranqüilizou-me e disse que havia apenas uma loira alta. E de repente no meu sonho invadiu uma galera esquisita, a turma toda estava perdida e tentando retornar para casa, era uma terra muito estranha. E quando menos imaginávamos fomos parar em uma escola, tinha uma professora muito agradável, e também havia um velhinho que era vigia, adorávamos ele, só não nos agradamos com uma loira que maltratava um menino negro que era apaixonada por ela, e a gordinha que não parava de comer, era tão romântica! Apareceu também sem ao menos esperarmos um garoto que batia em uma luva de beisebol e conseguia tudo o que desejava, era mesmo um sonho, fomos até na casa da árvore do menino, foi mágico! Foi então que chegamos a um Sítio, onde morava uma boneca de pano, e uma tia que fazia muitas gostosuras, e ainda havia uma vovó que contava histórias fantásticas, e...
Mas de repente o despertador alarmou, nos alertando o atraso para o trabalho. Somente neste instante tivemos a certeza de que já não éramos mais crianças, infelizmente.

GUARDAREI PARA SEMPRE AQUELE BEIJO NO ROSTO


Conheci-o no colegial, ele sentou-se ao lado direito, meus pés tremiam e o coração parecia querer atravessar a garganta, ele era divinamente superior, adentrou pela sala em passos lentos, caneta pendurada na camisa e Dom Casmurro na mão esquerda. Um Ser transcendental... Contemplá-lo durante a aula de história do Brasil, e se me recordo bem, ele adorava comentar sobre o Reinado de Dom João e ainda mais quando fazia referencias às peripécias de Carlota Joaquina, ele gargalhava! A nossa aproximação não foi difícil, logo consegui fazer nosso primeiro trabalho escolar em equipe, quase não disfarçava essa epifania da sua beleza que me invadia, mas me contive sempre que percebera um certo excesso de minha adolescência. Prosseguimos uma perfeita amizade, descobrimos nossos segredos em comum, ele também colecionava álbuns de Maria Bethânia, Dalva de Oliveira, Gal Costa, e adorava as Obras de Frida Khalo, preferíamos as mulheres (mas isso é uma outra história), trocamos papéis de cartas, mas tudo em absoluto sigilo, até que sua mãe nos proibiu de permanecemos no quarto com a porta fechada, a princípio não entendi, mas posteriormente não a olhava mais nos olhos.
Entramos no time de futebol, eu atuava na defesa da direita, já gostava de denominar a posição no campo como atuação, e ele era goleiro, ficávamos conversando despercebidamente durante os treinos em função da nossa proximidade. Separamos-nos apenas na época das feiras escolares, eu preferia organizar as atrações culturais e ele optava sempre pela elaboração e criação de projetos, apesar de que no dia da apresentação ele era o primeiro da fila, achava isso muito estranho. Aos finais dos bimestres nos orgulhávamos em exibir os boletins escolares às respectivas famílias, apesar de nunca superá-lo na matemática, apenas me orgulhava do amigo ao lado.
Em um dia comum acordei sentindo a vibração do telefone celular nas minhas pernas, por um instante empolguei-me, mas logo acordei de verdade, e ele me descrevia com plena felicidade sobre sua viagem ao estrangeiro, no entanto, disfarcei a voz trêmula e cortante que me desafiava. E uma semana depois estávamos no aeroporto com aquela criança tomado pela ansiedade do primeiro contato que faria com uma outra língua, cultura, e costumes, ele demonstrava mesmo gostar de novas experiências. Somente no momento do embargue ele me presenteou com um afável beijo no rosto, paramos por alguns instantes, quando abri os olhos vi-o prosseguir pelo corredor em frente sem olhar para trás, e eu fiquei, até não mais ver o avião que se escondia entre as nuvens.
Guardei o papel dobrado entre os livros empoeirados, a caneta velha pus na gaveta, e me concentrei tentando sonhar com os momentos vividos entre dois amigos. Mas sonhei apenas com a imagem do amigo de adolescência no aeroporto.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

HOJE FOI IMPOSSÍVEL NÃO PENSAR NAQUELA MULHER...




O Cheiro do hidrante de morango, do cigarro de canela, ainda estão impregnados nas narinas que buscam desprender-se desse desejo em uma série de tentativas frustradas. Mas nesse dia a sensação foi mais intensa. Acordo com as teorias do cinema associado a análise do filme Dogville, do Sueco Lars Von Trier presos na mente. No entanto, foi impossível não pensar nela. Sinto-me como um adolescente que confidencia seus desejos, medos e frustrações, deitado na cama de solteiro, entre quatro paredes, elevando e movimentando as pernas alternadamente. Mas não, sei que essa fase a que me lembro com muito saudosismo não me trará tamanho entusiasmo de volta. Mas essa data em especial, durante alguns anos será difícil não recordar-me. Pensara jamais sofrer por uma mulher como tenho sido acometido por esse mal nos últimos trimestres. Mas hoje, sei que posso sofrer por esse amor que carrega consigo um fruto que desejaria ser meu. As músicas são as testemunhas mais íntimas daquele amor. Vê-la nos braços de um homem tão inferior, que petrifica aquilo que o ser humano pode ter de pior, a hipocrisia e o egocentrismo. Ah! Não queria lembrar dessa dor. Há uma grande diferença entre as dores, a dor do parto, a dor da rejeição, e a dor do abandono, essa última é a pior por excelência, pois além de nos negar enquanto ser humano, oferece-nos apenas o silêncio ancorado pela covardia da verdade. Mas voltando ao cheiro, é através dele que carrego as lembranças que me alimentam diariamente. Pensei em muitas vezes procurá-la, mas o meu orgulho nunca permitiu, e mesmo após a sua gravidez, tratada sempre com muita frieza, mas encharcada de angústia profunda, o orgulho ficou mais forte. Se um dia improvavelmente ela visse essas linha rabiscadas, com certeza entenderia cada palavra aqui colocada, se ela compreendia o meu olhar, o que dizer de minhas palavras?... Lembro-me e por muito tempo lembrarei dos momentos mais simplistas vividos, comer pão com manteiga, sentar na varanda por cima dos telhados vizinhos, dividir um toca-cd cantando alto a mesma canção. Mas no momento só me resta deleitar com a voz de Gal Costa correspondendo às minhas emoções, sussurrando: “palavras, calas, nada fiz, estou tão infeliz”... E assim ela se foi, como um pôr-do-sol que adormece e deixa a lembrança da beleza dos raios bem gravados na memória, porém, ela não retornou na manhã seguinte.
“Mas isso pouca me importa, e quero mais é que ela se foda!”... Grita o meu orgulho.






Arlindo Bezerra da Silva Junior

SOLIDÃO


Grito. E no meu grito ressoa teu silêncio. Grito. E uma multidão me rodeia e me abafa. Grito, e sussurro. E minha solidão não é ausência de ninguém. minha solidão sou eu. Falo para ti porque quem está sozinho és tu. É a tua solidão e seu oco que me compadece, eu somente completo-o. Por não saber como é ser vazio, contigo converso, para que tu me contes. Eu que sou cheio, repleto, te desafio a viver.Na minha solidão pulso, carregando sempre esse teu olhar sólido. Nos teus cascos me vejo. Nos meus cacos hão de te encontrar. Diz, se ocupo teu vazio, se te preencho, ou se apenas te faço cócegas.E começo, e recomeço, e reconheço, e amanheço, e avanço, e retorno. Procuro te pintar e não ter a brancura que me rodeia, que me causa náuseas, mas consigo apenas vomitar o chão. E começo, e recomeço. Inútil. E fracasso. Não reconheço-o, não me reconheço. Tento livrar-me da angústia de tua suavidade, tento, e te preencho. Fracasso, e começo, e recomeço.Alcanço, agora lanço, e avanço, e amanso, e te ameaço. Mas descanso, e então ouço tua voz, me entrego, e só depois durmo, durmo, e durmo. Até que me acordes e livre-me da escuridão que estava presente.



Arlindo Bezerra da Silva Junior

ISABELA NÃO MORREU


*Texto escrito na rodoviária (saguão de embarque, e eternamente incomodado pelo noticiário).


Esganada, jogada do sexto andar, e não morreu.... Isabela, o nome mais citado nos jornais nas últimas semanas, ofuscando até mesmo a acirrada corrida dos democratas norte-americanos pela disputa presidencial... Mas Isabela não morreu... A menina branca, bela, e rica, que merecia mais um espaço nos contos de fadas caso não fosse a tragicidade do roteiro que protagoniza, simboliza um estereótipo enraizado pelos brasileiros. Isabela foi vítima da crueldade sim, da loucura etérea de homens que perderam a razão, de mentes confusas e conflitantes... Mas quantas Isabelas jogamos pela janela diariamente? Por quantas vezes nos omitimos a uma participação social e política efetiva, atirando sobre o vidro, estilhaçando-o com tantas Isabelas. Então voltem para as suas casas, saiam das ruas da delegacia e corram para as poltronas do poder legislativo. Pois quem possui o direito de considerar pais que cometeram tamanho homicídio como leprosos? Apedrejando-os numa via crucis pós-moderna, deixe que a justiça o faça! Ou caso decida viver nessa platéia comovida e sensível, prepare-se para o show... lá se foi outra Isabela pela janela, outra pelo bueiro, outra atravessa a maré descansando no leito do fundo da cesta. Não se omita a lutar por justiça, mas sedes inteligente. Caso contrário, caro colega, viverás eternamente na pólis das tragédias, vendo Isabelas que alçam vôos pelas janelas... Hoje foi Isabela, ontem joãos arrastados, e amanhã? Para quem brilhará o próximo holofote? Ah! Amanhã teremos Reality Show, - Aposto que aquela moça assassinada no ônibus vai para o paredão, será que ela sai? - Não, quem sai é aquela, - Como é o nome dela? -Ah, acho que é Eloá, - é, - é ela.

Arlindo Bezerra da Silva Júnior

DONA B. E SEUS DOIS MARIDOS


Ela é o próprio hibridismo entre o amor e o sexo. Uma mulata com samba no pé, com balanço na cintura e com a lata d'água na cabeça. Mistifica a androgenia homogeneizada entre Gabrielas, cravos, flores e canelas. Típico símbolo brasileiro. Não adianta saciá-la, seu desejo é eterno.Dona B. é o extremo dos opostos, ela precisa de dois submissos na sua rotina, aliás, eles precisam dela, porque Dona B. é transcendental. Mas como já disse, ela é Dona B., mulher de respeito, figura honrada no morro, que mantêm suas duplas facetas. Uma mãe, Dona de casa, noveleira de plantão, cartomante nas horas vagas, mas por trás dos panos de prato, esconde uma mulher selvagem, sagaz, insaciável, fatal.Mantêm uma dualidade entre seus romances, com o do lado direito da cama a Senhora mãe de família quer apenas amor, e com o camarada da esquerda, é puro tesão, suor, carnaval. Ela é a própria Afrodite reinando no trono da sua beleza entre os Deuses Dionísio e Apolo. Para o seu amor ela se ajoelha, reza e faz promessas. No entanto para sua aventura ela joga sutilmente seus búzios ou cartas e conta apenas com a própria sorte. E na cama, exorciza todas as suas forças entregando-se à carne, à navalha, ao sangue...Mas Dona B. estará por fim, entregando seu corpo e alma eternamente na cama para o lado direito, descansando seus cabelos sobre o peito do amor, mesmo que lute, jamais se libertará desse sentimento que a persegue e aprisiona. Mas sua mão boba sempre flutuará casualmente pela esquerda, até acidentalmente encontrar algo fálico e perigoso, e então, novamente será apenas aventura, entrega total. Mas logo em seguida ela voltará para o outro lado onde deixou seu amor esperando e dormindo, sem jamais imaginar que nesse momento dormiam três, na mesma e única cama. Por isso ela é Dona B., Dona bunda, Dona bamba, Dona banda. Ela é bomba! E não ouse decifrá-la, ela devora-te.


Arlindo Bezerra da Silva Júnior