sábado, 30 de maio de 2009

Então, nós esperamos a tempestade passar...


Diante dos momentos desconfortantes e tempestivos reconhecemos a eternidade, vivemos a suspensão no tempo, no espaço. Por um momento pensamos na ilha que não existe, na fuga em que se ancora a covardia. E quando não, optamos pelo desafio, descobrimos o desconhecido, e o escondido. Reconhecemos nossas falhas, revelamos nossa força, desafiamos a fraqueza, e negamos o fracasso. Então, nós esperamos a tempestade passar... e agora recomeçamos, acreditando que é possível reconstruir.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

DILATA TUA PUPILA


Só por hoje esqueça as filosofias, ignore os teóricos, cuspa na auto-ajuda. Só por hoje se entregue ao que há de mais vivo no seu corpo, sinta a pele, o calor. Ande na corda, pule do trampolim, salte na elasticidade da cama. Só por hoje, seja você, esqueça as opiniões alheias, somos donos do nosso destino... Se preocupas em enxergar o futuro, em elaborar planos, traçar metas... Mas não enxerga o que está pousado no teu olhar, o que pulsa no teu corpo!


Arlindo Bezerra da Silva Junior

Tic-Tac-Tic-Tac


Minicrônicamente

O frango estava no forno... Enquanto isso ele esperava na sala e fumava um charuto. Sentindo o cheiro da fumaça, ela tomava banho e perfumava-se de rosas... Mas logo em seguida, ele rola escada abaixo, o charuto ainda continua acesso, o frango no forno, e a canção no banho... E inocentemente ela pedia uma noite diferente, e teria.

Arlindo Bezerra da Silva Junior

terça-feira, 26 de maio de 2009

O Prazer da Saudade...


Entre borrachas e apontadores, mora o meu grande amor Colei seu nome com várias cores no livro que ela me emprestou Mandei mil balas e mariolas, roubei as flores todas do jardim Eu faco tudo na minha escola pra ver se ela gosta de mim Cola o teu desenho no meu pra ver se cola Cola o meu retrato no teu e me namora Comigo nessa danca, um sonho de crianca E o meu coracao colado ao teu pra ver se cola (2X) Entre borrachas e apontadores, mora o meu grande amor Colei seu nome com varias cores no livro que ela me emprestou Mandei mil balas e mariolas, roubei as flores todas do jardim Eu faco tudo na minha escola pra ver se ela gosta de mim Cola o teu desenho no meu pra ver se cola Cola o meu retrato no teu e me namora Comigo nessa danca, um sonho de crianca E o meu coracao colado ao teu pra ver se cola (2X)
Letra: Trem da Alegria

" A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar" Rubem Alves

És belo...



Quando chegamos ao mundo, são as palmadas que nos recebem e nos inspiram ao primeiro choro, o grito de anúcio de chegada. Também são as tapinhas leves nas costas que nos proporcionam alguns poucos arrotos após a refeição. Ainda criança é através do tapa que conseguimos o que queremos, inclusive a primeira confusão. Mais tarde para alguns o tapa pode ser prazer, sexo, cama. Mas o que verdadeiramente nos trazem ao mundo é o tapa que ele nos dá, então agora você recebe um sincero: Seja bem-vindo, você nasceu! Mas continuamos a enxergar a beleza de um tapa...

Arlindo Bezerra da Silva Junior

domingo, 24 de maio de 2009

Antes de entrar na sala senti seu perfume...


Você já amou pela beleza do gesto, você já mordeu a maçã com os dentes todos, pelo sabor do fruto. A sua doçura e o seu gesto já se perdeu algumas vezes. Sim, eu já amei pela beleza do gesto, mas a maçã era dura, parti os dentes. Estas paixões imaturas, estes amores indigestos, me deixaram mal dispostos algumas vezes. Os amores que duram, tornam os amantes exaustos, e o beijo deles demasiado maduro, apodrece-nos a língua. Os amores passageiros, têm febres passageiras. E o verbo demasiado verde. Esfola-nos os lábios. Porque ao querer amar pela beleza do gesto, o verme da maçã escorrega-nos entre os dentes. Ele roe-nos o coração, o cérebro e o resto, esvazia-nos lentamente. Mas quando ouvimos o amor pela beleza dos gesto, este verme da maçã que nos escorrega entre os dentes, toca em nosso coração, o cérebro e deixa-nos o seu perfume lá dentro. Os amores pasageiros fazem esforços inúteis, as suas carícias efêmeras, cansa-nos o corpo. Os amores que duram, tornam os amantes menos belos.


Ama-me menos, mas ama-me por mais tempo.


Filme: Les Chansons d'amour

sábado, 23 de maio de 2009

Tempo, tempo, tempo...



És um senhor tão bonito Quanto a cara do meu filho Tempo tempo tempo tempo Vou te fazer um pedido Tempo tempo tempo tempo Compositor de destinos Tambor de todos os ritmos Tempo tempo tempo tempo Entro num acordo contigo Tempo tempo tempo tempo Por seres tão inventivo E pareceres contínuo Tempo tempo tempo tempo És um dos deuses mais lindos Tempo tempo tempo tempo Que sejas ainda mais vivo No som do meu estribilho Tempo tempo tempo tempo Ouve bem o que eu te digo Tempo tempo tempo tempo Peço-te o prazer legítimo E o movimento preciso Tempo tempo tempo tempo Quando o tempo for propício Tempo tempo tempo tempo De modo que o meu espírito Ganhe um brilho definitivo Tempo tempo tempo tempo E eu espalhe benefícios Tempo tempo tempo tempo O que usaremos pra isso Fica guardado em sigilo Tempo tempo tempo tempo Apenas contigo e comigo Tempo tempo tempo tempo E quando eu tiver saído Para fora do teu círculo Tempo tempo tempo tempo



Oração ao Tempo - Caetano Veloso

VOCÊ PODE APROVEITAR ESSE DIA LINDO...

Lynette - Ei, Mary Alice, você está bem?
Mary Alice - Sim, obrigada. Estou bem.
Lynette - Okay. Te vejo depois.

Mas nesta noite, algo mudou.

Lynette - Não, você não está. Eu posso ver. Por favor... me diga o que há de errado. Me deixe te salvar.
Mary Alice - Você não pode me salvar.
Lynette - Por que não?
Mary Alice - Querida, nós não podemos evitar o que não podemos prever.
Lynette - Não há nada que eu possa fazer?
Mary Alice - Há. Você pode aproveitar esse dia lindo. A gente tem tão poucos assim.

Esta foi a última vez que Lynette sonharia comigo. E, por seu bem, eu fico feliz.


Desperate Hosewives.


Temos tão pouco tempo! Aproveite...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

ERA PARA SER UM LINDO DIA...

Há muito a se ter medo nesse mundo... Mas o que nós tememos não tem nada a ver com máscaras horrendas... ou aranhas de plástico... ou fantasias de monstros. Não, são os pensamentos em nossas mentes que mais nos aterrorizam...

"E se ela se arrepender de sua decisão?"
"E se ele estiver mesmo infeliz?"
"E se a oportunidade para amar se foi para sempre?"

Como nós vencemos esses pensamentos aterrorizantes? Começamos por nos lembrar, que o que não nos mata... nos deixa mais forte.


Desperate Hosewives


Era para ser um lindo dia, até que veio a chuva e com ela, tudo mudou. Quisera poder sistematicamente apagar apenas uma tarde deste calendário anual, mas sei da impossibilidade de tal desejo. De repente não havia mais onde pisar, o chão cedeu, a queda parecia eterna. Apesar da melancolia que invadiu aquele horário de almoço, continuamos a acreditar nas possibilidades que o amanhã pode nos trazer. São tantas lembranças inesquecíveis, momentos e lugares tão particulares e especiais, que dificilmente serão esquecidos. Porém, diz aquele velho ditado: O mundo dá voltas...e como dá.


Arlindo Bezerra da Silva Junior

EU TINHA QUE ESCREVER...

Agora é que são elas!... É o momento das caricatas, o Estado monta um palco de mariconas, elas quem ditam, são super-egos que se mastigam e vomitam multualmente sua arte que rende, vende e mente. Frutos do passado que adormeceram e repousaram na sombra da acomodação, glória e poder. Verdadeiros crepúsculos dos Deuses, exibidos não mais nas telas do cinema, agora nas telas do Estado. A originalidade histórica perdeu-se nas máscaras da revitalização Ribeiriana, a maquiagem borrou, as rugas da guerrilha de frente mostram seus sinais emergenciais, então, monte-se palcos e outros palcos, os que já existem são insuficientes, lâmpadas e mais lâmpadas, praças, museus ou a casa da mãe Joana (com todo respeito aos filhos). Enquanto isso, as pesquisas dos centros de formação e o conhecimento acadêmico apodrecem nas salas de aulas ou nos títulos de docentes. É preciso tornar a arte popular sim, mas sem torná-la ridícula. E quando a esperança estava quase começando, a luz apagou! No entanto, já diziam à Alice no seu país das maravilhas: “para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho é válido”.

*Depois de uma sessão pública de prestação de contas da cultura potiguar. Se não me engano era outro nome.

Língua ferina! Como diz meu amigo escritor.

Arlindo Bezerra da Silva Junior

FAZ-ME pequeno

Naquela noite, não quis ir dormir, ainda pensando em tudo o que tinha dito, e isso continuava a incomodar-me incessantemente, após ser vencido pelo cansaço, fui até o armário e com o telefone nas mãos resolvi ligar e desculpar-me de todas as grosserias, mas o telefone apenas tocou. O dia amanheceu e todos podiam notar as linhas no meu rosto de uma noite mal dormida, aliás não dormida.

Depois de várias outras tentativas fracassadas e não atendidas resolvi esquecer o tal pedido de desculpas, mas até nisso fui um fracasso, não esqueci. E assim prosseguiram sucessivas noites em claro, estava exausto, precisava aliviar o sentimento de culpa que me perseguia desde aquele dia, apenas isso. Depois de dois celulares quebrados, incalculáveis maços de cigarros, dúzias de vinhos, e páginas amarelas de um velho diário lido, é chegado o dia em que as probabilidades matemáticas reserva-nos um encontro na fila do cinema, e mesmo antes que eu pudesse falar perdão, já havia dito, esquece, eu nem lembrava mais... E assim entrei na sala de cinema, sentado na última fila, comi até a última pipoca e saí no último segundo, olhando para o último casal e me sentindo a última pessoa.

Arlindo Bezerra da Silva Junior

quinta-feira, 21 de maio de 2009

SUPERFASTICAMENTE


Ontem sentimos saudades, só por ontem fomos inocentes novamente. Sentimos muito pelo tempo que voa, pedimos muito para sermos apenas crianças, como dois eternos Peter Pan. Mas, olhando para o espelho, lembramos que crescemos, e então, foi preciso fechar os olhos e sonhar. Ela gritou que estava entrando em uma nave, perguntei se tinha um extraterrestre, ela tranqüilizou-me e disse que havia apenas uma loira alta. E de repente no meu sonho invadiu uma galera esquisita, a turma toda estava perdida e tentando retornar para casa, era uma terra muito estranha. E quando menos imaginávamos fomos parar em uma escola, tinha uma professora muito agradável, e também havia um velhinho que era vigia, adorávamos ele, só não nos agradamos com uma loira que maltratava um menino negro que era apaixonada por ela, e a gordinha que não parava de comer, era tão romântica! Apareceu também sem ao menos esperarmos um garoto que batia em uma luva de beisebol e conseguia tudo o que desejava, era mesmo um sonho, fomos até na casa da árvore do menino, foi mágico! Foi então que chegamos a um Sítio, onde morava uma boneca de pano, e uma tia que fazia muitas gostosuras, e ainda havia uma vovó que contava histórias fantásticas, e...
Mas de repente o despertador alarmou, nos alertando o atraso para o trabalho. Somente neste instante tivemos a certeza de que já não éramos mais crianças, infelizmente.

GUARDAREI PARA SEMPRE AQUELE BEIJO NO ROSTO


Conheci-o no colegial, ele sentou-se ao lado direito, meus pés tremiam e o coração parecia querer atravessar a garganta, ele era divinamente superior, adentrou pela sala em passos lentos, caneta pendurada na camisa e Dom Casmurro na mão esquerda. Um Ser transcendental... Contemplá-lo durante a aula de história do Brasil, e se me recordo bem, ele adorava comentar sobre o Reinado de Dom João e ainda mais quando fazia referencias às peripécias de Carlota Joaquina, ele gargalhava! A nossa aproximação não foi difícil, logo consegui fazer nosso primeiro trabalho escolar em equipe, quase não disfarçava essa epifania da sua beleza que me invadia, mas me contive sempre que percebera um certo excesso de minha adolescência. Prosseguimos uma perfeita amizade, descobrimos nossos segredos em comum, ele também colecionava álbuns de Maria Bethânia, Dalva de Oliveira, Gal Costa, e adorava as Obras de Frida Khalo, preferíamos as mulheres (mas isso é uma outra história), trocamos papéis de cartas, mas tudo em absoluto sigilo, até que sua mãe nos proibiu de permanecemos no quarto com a porta fechada, a princípio não entendi, mas posteriormente não a olhava mais nos olhos.
Entramos no time de futebol, eu atuava na defesa da direita, já gostava de denominar a posição no campo como atuação, e ele era goleiro, ficávamos conversando despercebidamente durante os treinos em função da nossa proximidade. Separamos-nos apenas na época das feiras escolares, eu preferia organizar as atrações culturais e ele optava sempre pela elaboração e criação de projetos, apesar de que no dia da apresentação ele era o primeiro da fila, achava isso muito estranho. Aos finais dos bimestres nos orgulhávamos em exibir os boletins escolares às respectivas famílias, apesar de nunca superá-lo na matemática, apenas me orgulhava do amigo ao lado.
Em um dia comum acordei sentindo a vibração do telefone celular nas minhas pernas, por um instante empolguei-me, mas logo acordei de verdade, e ele me descrevia com plena felicidade sobre sua viagem ao estrangeiro, no entanto, disfarcei a voz trêmula e cortante que me desafiava. E uma semana depois estávamos no aeroporto com aquela criança tomado pela ansiedade do primeiro contato que faria com uma outra língua, cultura, e costumes, ele demonstrava mesmo gostar de novas experiências. Somente no momento do embargue ele me presenteou com um afável beijo no rosto, paramos por alguns instantes, quando abri os olhos vi-o prosseguir pelo corredor em frente sem olhar para trás, e eu fiquei, até não mais ver o avião que se escondia entre as nuvens.
Guardei o papel dobrado entre os livros empoeirados, a caneta velha pus na gaveta, e me concentrei tentando sonhar com os momentos vividos entre dois amigos. Mas sonhei apenas com a imagem do amigo de adolescência no aeroporto.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

HOJE FOI IMPOSSÍVEL NÃO PENSAR NAQUELA MULHER...




O Cheiro do hidrante de morango, do cigarro de canela, ainda estão impregnados nas narinas que buscam desprender-se desse desejo em uma série de tentativas frustradas. Mas nesse dia a sensação foi mais intensa. Acordo com as teorias do cinema associado a análise do filme Dogville, do Sueco Lars Von Trier presos na mente. No entanto, foi impossível não pensar nela. Sinto-me como um adolescente que confidencia seus desejos, medos e frustrações, deitado na cama de solteiro, entre quatro paredes, elevando e movimentando as pernas alternadamente. Mas não, sei que essa fase a que me lembro com muito saudosismo não me trará tamanho entusiasmo de volta. Mas essa data em especial, durante alguns anos será difícil não recordar-me. Pensara jamais sofrer por uma mulher como tenho sido acometido por esse mal nos últimos trimestres. Mas hoje, sei que posso sofrer por esse amor que carrega consigo um fruto que desejaria ser meu. As músicas são as testemunhas mais íntimas daquele amor. Vê-la nos braços de um homem tão inferior, que petrifica aquilo que o ser humano pode ter de pior, a hipocrisia e o egocentrismo. Ah! Não queria lembrar dessa dor. Há uma grande diferença entre as dores, a dor do parto, a dor da rejeição, e a dor do abandono, essa última é a pior por excelência, pois além de nos negar enquanto ser humano, oferece-nos apenas o silêncio ancorado pela covardia da verdade. Mas voltando ao cheiro, é através dele que carrego as lembranças que me alimentam diariamente. Pensei em muitas vezes procurá-la, mas o meu orgulho nunca permitiu, e mesmo após a sua gravidez, tratada sempre com muita frieza, mas encharcada de angústia profunda, o orgulho ficou mais forte. Se um dia improvavelmente ela visse essas linha rabiscadas, com certeza entenderia cada palavra aqui colocada, se ela compreendia o meu olhar, o que dizer de minhas palavras?... Lembro-me e por muito tempo lembrarei dos momentos mais simplistas vividos, comer pão com manteiga, sentar na varanda por cima dos telhados vizinhos, dividir um toca-cd cantando alto a mesma canção. Mas no momento só me resta deleitar com a voz de Gal Costa correspondendo às minhas emoções, sussurrando: “palavras, calas, nada fiz, estou tão infeliz”... E assim ela se foi, como um pôr-do-sol que adormece e deixa a lembrança da beleza dos raios bem gravados na memória, porém, ela não retornou na manhã seguinte.
“Mas isso pouca me importa, e quero mais é que ela se foda!”... Grita o meu orgulho.






Arlindo Bezerra da Silva Junior

SOLIDÃO


Grito. E no meu grito ressoa teu silêncio. Grito. E uma multidão me rodeia e me abafa. Grito, e sussurro. E minha solidão não é ausência de ninguém. minha solidão sou eu. Falo para ti porque quem está sozinho és tu. É a tua solidão e seu oco que me compadece, eu somente completo-o. Por não saber como é ser vazio, contigo converso, para que tu me contes. Eu que sou cheio, repleto, te desafio a viver.Na minha solidão pulso, carregando sempre esse teu olhar sólido. Nos teus cascos me vejo. Nos meus cacos hão de te encontrar. Diz, se ocupo teu vazio, se te preencho, ou se apenas te faço cócegas.E começo, e recomeço, e reconheço, e amanheço, e avanço, e retorno. Procuro te pintar e não ter a brancura que me rodeia, que me causa náuseas, mas consigo apenas vomitar o chão. E começo, e recomeço. Inútil. E fracasso. Não reconheço-o, não me reconheço. Tento livrar-me da angústia de tua suavidade, tento, e te preencho. Fracasso, e começo, e recomeço.Alcanço, agora lanço, e avanço, e amanso, e te ameaço. Mas descanso, e então ouço tua voz, me entrego, e só depois durmo, durmo, e durmo. Até que me acordes e livre-me da escuridão que estava presente.



Arlindo Bezerra da Silva Junior

ISABELA NÃO MORREU


*Texto escrito na rodoviária (saguão de embarque, e eternamente incomodado pelo noticiário).


Esganada, jogada do sexto andar, e não morreu.... Isabela, o nome mais citado nos jornais nas últimas semanas, ofuscando até mesmo a acirrada corrida dos democratas norte-americanos pela disputa presidencial... Mas Isabela não morreu... A menina branca, bela, e rica, que merecia mais um espaço nos contos de fadas caso não fosse a tragicidade do roteiro que protagoniza, simboliza um estereótipo enraizado pelos brasileiros. Isabela foi vítima da crueldade sim, da loucura etérea de homens que perderam a razão, de mentes confusas e conflitantes... Mas quantas Isabelas jogamos pela janela diariamente? Por quantas vezes nos omitimos a uma participação social e política efetiva, atirando sobre o vidro, estilhaçando-o com tantas Isabelas. Então voltem para as suas casas, saiam das ruas da delegacia e corram para as poltronas do poder legislativo. Pois quem possui o direito de considerar pais que cometeram tamanho homicídio como leprosos? Apedrejando-os numa via crucis pós-moderna, deixe que a justiça o faça! Ou caso decida viver nessa platéia comovida e sensível, prepare-se para o show... lá se foi outra Isabela pela janela, outra pelo bueiro, outra atravessa a maré descansando no leito do fundo da cesta. Não se omita a lutar por justiça, mas sedes inteligente. Caso contrário, caro colega, viverás eternamente na pólis das tragédias, vendo Isabelas que alçam vôos pelas janelas... Hoje foi Isabela, ontem joãos arrastados, e amanhã? Para quem brilhará o próximo holofote? Ah! Amanhã teremos Reality Show, - Aposto que aquela moça assassinada no ônibus vai para o paredão, será que ela sai? - Não, quem sai é aquela, - Como é o nome dela? -Ah, acho que é Eloá, - é, - é ela.

Arlindo Bezerra da Silva Júnior

DONA B. E SEUS DOIS MARIDOS


Ela é o próprio hibridismo entre o amor e o sexo. Uma mulata com samba no pé, com balanço na cintura e com a lata d'água na cabeça. Mistifica a androgenia homogeneizada entre Gabrielas, cravos, flores e canelas. Típico símbolo brasileiro. Não adianta saciá-la, seu desejo é eterno.Dona B. é o extremo dos opostos, ela precisa de dois submissos na sua rotina, aliás, eles precisam dela, porque Dona B. é transcendental. Mas como já disse, ela é Dona B., mulher de respeito, figura honrada no morro, que mantêm suas duplas facetas. Uma mãe, Dona de casa, noveleira de plantão, cartomante nas horas vagas, mas por trás dos panos de prato, esconde uma mulher selvagem, sagaz, insaciável, fatal.Mantêm uma dualidade entre seus romances, com o do lado direito da cama a Senhora mãe de família quer apenas amor, e com o camarada da esquerda, é puro tesão, suor, carnaval. Ela é a própria Afrodite reinando no trono da sua beleza entre os Deuses Dionísio e Apolo. Para o seu amor ela se ajoelha, reza e faz promessas. No entanto para sua aventura ela joga sutilmente seus búzios ou cartas e conta apenas com a própria sorte. E na cama, exorciza todas as suas forças entregando-se à carne, à navalha, ao sangue...Mas Dona B. estará por fim, entregando seu corpo e alma eternamente na cama para o lado direito, descansando seus cabelos sobre o peito do amor, mesmo que lute, jamais se libertará desse sentimento que a persegue e aprisiona. Mas sua mão boba sempre flutuará casualmente pela esquerda, até acidentalmente encontrar algo fálico e perigoso, e então, novamente será apenas aventura, entrega total. Mas logo em seguida ela voltará para o outro lado onde deixou seu amor esperando e dormindo, sem jamais imaginar que nesse momento dormiam três, na mesma e única cama. Por isso ela é Dona B., Dona bunda, Dona bamba, Dona banda. Ela é bomba! E não ouse decifrá-la, ela devora-te.


Arlindo Bezerra da Silva Júnior