Naquela noite, não quis ir dormir, ainda pensando em tudo o que tinha dito, e isso continuava a incomodar-me incessantemente, após ser vencido pelo cansaço, fui até o armário e com o telefone nas mãos resolvi ligar e desculpar-me de todas as grosserias, mas o telefone apenas tocou. O dia amanheceu e todos podiam notar as linhas no meu rosto de uma noite mal dormida, aliás não dormida.
Depois de várias outras tentativas fracassadas e não atendidas resolvi esquecer o tal pedido de desculpas, mas até nisso fui um fracasso, não esqueci. E assim prosseguiram sucessivas noites em claro, estava exausto, precisava aliviar o sentimento de culpa que me perseguia desde aquele dia, apenas isso. Depois de dois celulares quebrados, incalculáveis maços de cigarros, dúzias de vinhos, e páginas amarelas de um velho diário lido, é chegado o dia em que as probabilidades matemáticas reserva-nos um encontro na fila do cinema, e mesmo antes que eu pudesse falar perdão, já havia dito, esquece, eu nem lembrava mais... E assim entrei na sala de cinema, sentado na última fila, comi até a última pipoca e saí no último segundo, olhando para o último casal e me sentindo a última pessoa.
Arlindo Bezerra da Silva Junior
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