*Texto escrito na rodoviária (saguão de embarque, e eternamente incomodado pelo noticiário).
Esganada, jogada do sexto andar, e não morreu.... Isabela, o nome mais citado nos jornais nas últimas semanas, ofuscando até mesmo a acirrada corrida dos democratas norte-americanos pela disputa presidencial... Mas Isabela não morreu... A menina branca, bela, e rica, que merecia mais um espaço nos contos de fadas caso não fosse a tragicidade do roteiro que protagoniza, simboliza um estereótipo enraizado pelos brasileiros. Isabela foi vítima da crueldade sim, da loucura etérea de homens que perderam a razão, de mentes confusas e conflitantes... Mas quantas Isabelas jogamos pela janela diariamente? Por quantas vezes nos omitimos a uma participação social e política efetiva, atirando sobre o vidro, estilhaçando-o com tantas Isabelas. Então voltem para as suas casas, saiam das ruas da delegacia e corram para as poltronas do poder legislativo. Pois quem possui o direito de considerar pais que cometeram tamanho homicídio como leprosos? Apedrejando-os numa via crucis pós-moderna, deixe que a justiça o faça! Ou caso decida viver nessa platéia comovida e sensível, prepare-se para o show... lá se foi outra Isabela pela janela, outra pelo bueiro, outra atravessa a maré descansando no leito do fundo da cesta. Não se omita a lutar por justiça, mas sedes inteligente. Caso contrário, caro colega, viverás eternamente na pólis das tragédias, vendo Isabelas que alçam vôos pelas janelas... Hoje foi Isabela, ontem joãos arrastados, e amanhã? Para quem brilhará o próximo holofote? Ah! Amanhã teremos Reality Show, - Aposto que aquela moça assassinada no ônibus vai para o paredão, será que ela sai? - Não, quem sai é aquela, - Como é o nome dela? -Ah, acho que é Eloá, - é, - é ela.
Arlindo Bezerra da Silva Júnior
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